Se existe o Dia Mundial da Dança é porque, mundialmente, a sua importância já foi reconhecida.
A dança sempre dialogou e se ladeou de outras formas de expressão artística acompanhando o pensamento e os movimentos de vanguarda.
A dança sempre teve a coragem de experienciar a teoria, de reconhecer filosofia no corpo, de encarnar pensamentos e de manifestar fisicamente aquilo que alguns apenas pensam.
Esta é a sua maior força e o seu maior obstáculo, tornar ideias realidade, num momento presencial, de exposição. Esta é também a sua essência política, ser linguagem e ser acção.
A dança em Portugal tem-se desenvolvido autonomamente, integrando a educação, a formação, a teorização e a criação de uma comunidade sólida que sabe o que procura e que sabe o que precisa. Uma comunidade politicamente madura que nunca se eximiu a completar aspectos fundamentais esquecidos ou ignorados pela iniciativa estatal e de criar um papel fundamental nas sociedades onde se insere.
A dança portuguesa conseguiu nos últimos 20 anos ganhar relevância no panorama nacional e internacional principalmente pela sua capacidade de se manter à cabeça da vanguarda europeia.
Pretendemos manter o que acreditamos ser a vocação artística na procura de linguagens próprias, de verdadeira inovação no sentido de enveredar por caminhos ainda desconhecidos e por isso rejeitamos políticas culturais que demonstrem estratégias de dominar os seus processos, conteúdos e pluralidade limitando a diversidade de discursos e pensamentos.
A dança depende de uma comunidade saudável de artistas que possa continuar a explorar e a defendê-la dentro de uma sociedade que a legitime e reconheça.
Uma sociedade minada pela desconfiança entre artistas, opinião pública e estado é uma sociedade dilacerada, fragmentada, sem força identitária e sem força criativa.
Achamos perigoso que se substitua uma política cultural que, numa democracia, requer um profundo conhecimento do sector e diálogo com os seus principais agentes, por um programa de gestão alheio às suas reais necessidades.
A instrumentalização da arte é necessariamente um contra-senso, se esta deixa de ser livre deixa também de ser arte.
De uma vez por todas é preciso ter em mente que são os artistas contemporâneos que, em cada momento na vida das sociedades, constroem o património cultural do futuro.
É fundamental que os nossos dirigentes mudem de atitude face ao orçamento para a cultura: trata-se de um investimento de maior importância e não de um simples e evitável gasto.
Pode-se reduzir o movimento a uma equação matemática. Pode-se não reduzir o movimento a uma equação matemática.
Citando Susan Sontag: Uma obra de arte não é apenas sobre qualquer coisa; é qualquer coisa. Uma obra de arte é uma coisa do mundo, não apenas um texto ou um comentário sobre o mundo.