Por
uma cultura de transparência
A
REDE – associação de estruturas para a dança contemporânea - vem publicamente
manifestar repúdio e informar a comunicação social e sociedade civil sobre os
contornos relativos aos últimos desenvolvimentos e manifestações da estratégia
do Ministério da Cultura para o desenvolvimento da Cultura em Portugal.
Foram
apresentados, numa cerimónia no Centro Cultural de Belém, no dia 15 de
Fevereiro, três novos projectos para o sector cultural (Fundo para a Internacionalização
da Cultura Portuguesa, Portugal MusicExport e Rede Portuguesa de Teatros
Municipais). Tendo sido anunciado o reforço financeiro do Ministério da Cultura
com 5 milhões de euros oriundos dos lucros dos jogos sociais, dos quais um
milhão de euros destinado à DGArtes para reforço das estruturas com contratos
de apoio quadrienal, ainda para o ano de 2011. Todas estas medidas foram
amplamente noticiadas e divulgadas durante toda a semana.
Congratulamo-nos
com a intenção deste Ministério em promover o desenvolvimento de uma série de
projectos fundamentais para o crescimento e consolidação das artes em Portugal,
projectos que aliás temos vindo a defender serem necessários e que devem ser
implementados. Não nos podemos no entanto pronunciar de momento em relação aos
mesmos por não possuirmos suficiente informação e pouco nos ter sido adiantado
além das suas intenções iniciais.
Entretanto,
cumpre-nos manifestar o nosso descontentamento em relação à forma como estas
questões têm sido tratadas e clarificar algumas questões para que possamos
todos perceber o que está aqui verdadeiramente a ser posto em causa:
1 -
Consideramos que o MC e a DGArtes faltam à verdade quando anunciam e divulgam
publicamente que irão aplicar um reforço orçamental nas estruturas quadrienais
quando, na verdade, se trata de uma diminuição na percentagem dos cortes (com a
devolução de 1milhão de euros), num momento em que surgem verbas que tornam
injustificáveis esses mesmo cortes. Tal como é do conhecimento público foi
imposto, unilateralmente, pelo Ministério da Cultura um corte de 23% (cerca de
3milhões de euros) nos contratos já em curso para o ano de 2011, sob o pretexto
da contenção orçamental e da crise financeira. Continuamos a considerar esta
medida ilegal e defendemos a sua suspensão, pelo que não aceitamos que a opção
política do Ministério da Cultura não seja senão a de repor a legalidade e
cumprir com o financiamento contratualizado. Olhamos com desconfiança o
lançamento de novos projectos (a rede de cine-teatros e internacionalização)
quando a seriedade das relações entre agentes culturais e Ministério da Cultura
é posta em causa por esta tutela. Não podemos deixar de observar que as medidas
em questão estão a ser lançadas à custa de sérios danos ao tecido cultural do
país. Ao mesmo tempo que são anunciados “reforços”, as adendas para resolução
dos contratos quadrienais, contemplando os cortes de 23%, começam a chegar às
estruturas, naquilo que nos parece um exercício de coerção e de tentativa de
aproveitamento da fragilidade financeira das estruturas. Se estas adendas forem
assinadas tal como estão, estaremos a legitimar o incumprimento e a pôr em
causa direitos fundamentais.
2 –
Consideramos extremamente distorcida a lógica de diálogo praticada pelos
actuais responsáveis do Ministério da Cultura e DGARTES. Enquanto
representantes do sector não temos sido oficialmente ouvidos e envolvidos em
todo este processo, apoiando-se a DGARTES e o Ministério da Cultura na
multiplicação de reuniões supostamente informais cuja lógica de convocação não
é de todo transparente. Nestas sessões, medidas que afectam a estruturação e a
lógica de funcionamento do sector cultural são apresentadas como consumadas e
irreversíveis. Não consideramos que seja inocente esta auscultação supostamente
informal e chamamos a atenção para as consequências nocivas para o exercício da
democracia e da representatividade, fundamentais para que políticas culturais
consequentes possam ser implementadas sem que sejam esvaziadas em meros
exercícios de marketing político.
3 –
Acreditamos ser absolutamente necessário reformular a lógica de actuação do
Ministério da Cultura e da DGARTES e introduzir um grau de seriedade e de
confiança que nos permitam fazer face ao presente. Defendemos medidas
estratégicas a médio e longo prazo para o desenvolvimento sustentado do sector
que, de todo, não se podem alicerçar no incumprimento de compromissos, com
contornos de desrespeito por direitos fundamentais num Estado de direito.
Face
ao exposto, assumimos a nossa responsabilidade na clarificação da actuação do Ministério da Cultura e
da DGARTES nestas matérias, procurando junto destas entidades e do próprio
Governo tomadas de posição transparentes sobre o que se está a fazer pela
cultura neste país.
Pela
Direcção da REDE
NEC/Fábrica
de Movimentos
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